
Viagens na Minha Terra... através de cantos tradicionais
Este
programa incluye obras tradicionales de Portugal con harmonizaciones de varios compositores.
This Program
program includes Portuguese traditional songs with hamony of several composers.
Viagens na Minha Terra
é expressão de um ideário continuamente renovado de conhecimento e reconhecimento da cultura portuguesa. Surge primeiramente em
meados do século XIX com Almeida Garrett, como síntese de um gesto vinculado ao romantismo. As Viagens de Almeida Garrett situam-se
e situam-nos em determinado momento e perspetiva histórica.
Seguindo o gesto de Garrett, mas num ideário já renovado pela modernidade
do século XX, Fernando Lopes-Graça compõe obra musical com o mesmo título. As Viagens de Lopes-Graça ultrapassam o âmbito geográfico
do percurso entre Lisboa e Santarém retratados por Garrett e, seguindo as possibilidades do conhecimento musical partilhado por uma
plêiade de folcloristas, nos propõem uma vivência da diversidade cultural portuguesa, nomeadamente, da cultura do mundo rural.
As Viagens ganharam, em Lopes-Graça, uma nova dimensão. Propõe o
conhecimento da unidade do sentido nacional (a minha terra) no reconhecimento da diversidade (propiciado pelas viagens).
Mas a esse ideário de âmbito nacionalista não recusava, antes pelo contrário, a valorização da cultura local. Viagens na minha terra
simbolizam um gesto de apropriação e partilha guiados pelo critério da equidade. Uma apropriação da herança cultural valorizada pelas
gentes de cada aldeia ou lugarejo e de partilha dessa herança com o reconhecimento do seu valor estético, da sua potencialidade expressiva,
do valor da sua aura (recorrendo ao pensamento de Walter Benjamin), reconhecido em termos de genuinidade estética.
Viagens na ninha terra é, portanto, um convite à imersão na cultura
portuguesa considerada na sua diversidade, onde a própria diversidade é também fator de riqueza. Nas Viagens de hoje, na proposta
conjunta do Ensemble Vocal Introitus e do Trio Pessoa, a distância deixou de medir-se enquanto separação no espaço, passando
a sua significação para a dimensão temporal, na memória. As formas de viver e de expressar modificaram-se, dela restando por vezes meros resíduos.
Cada pequena melodia ou tema musical é reapresentado aos nossos ouvidos pela
singularidade do olhar de cada autor. Assim, neste programa, a modernidade de Lopes-Graça é combinada com a singeleza de Manuel Luís, a
pregnância da personalidade de Eurico Carrapatoso, com a sensibilidade de Alfredo Teixeira, da mesma forma que se combinam em alternância
os momentos vocais e os instrumentais.
Mas as Viagens agora propostas acrescentam outro dado único, de uma vivência
musical partilhada pelos músicos com o público, num momento irrepetível que se revela no aqui e agora (a aura benjaminiana)
e que se renova cada vez que é realizado. As Viagens adquirem o sentido da comunhão e expressam-no musicalmente. E esse sentido
profundamente gregário das Viagens contido no programa resulta valorizado pela diversidade de pontos de vista (também musical)
revelado pelos autores escolhidos, a sensibilidade com que acolheram e trataram os temas musicais.
Alexandre Branco Weffort
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